ARTES E LETRAS

João Sebastião Bach – Passado e Presente


O programa do Festival Bach 2000, que se realiza na lindíssima cidade de Eisenach, na Turíngia, berço de grandes vultos da história da humanidade e onde a filosofia Rosacruz está solidamente implantada, deixa-nos perplexos! Temos por um lado a notícia da participação de grandes organistas, como Edgar Krapp, e de concertos pela Academia de Música Antiga, sob a direcção de A. Manze. Por outro, vemos a notícia de actuações ao ar livre de notáveis músicos de rock com interpretações de temas de Bach e de "danças" associadas a este compositor. E há entre eles figura de renome mundial, como Franz Diez (Peter Maffay Band) Paul Vicente, C. Hodgkinson e Ken Taylor!

As danças, que também são ao ar livre, junto da casa natal do genial compositor, têm coreografia moderna associada à música barroca adaptada ao piano sob a direcção de Burkhart Seidemann.

Porque será que os jovens se sentem tão atraídos pela obra de J. Bach? Será pelo facto de um célebre agrupamento musical dos anos 60 e 70, os famosos Beatles, adorados por uns, criticados por outros, se ter inspirado em Bach? E por que razão os actuais músicos de Jazz e Pop também nele se inspiram?

A resposta poderá estar no facto de as obras que é compostas em harmonia com os arquétipos cósmicos, acaba por se tornarem intemporais e converterem-se em elos de união entre o passado e o presente.

Por isso, os compositores da actualidade encontram em Bach – e outros génios da música – uma fonte de inspiração. Lembremo-nos das nove "Bachianas Brasileiras", compostas entre 1930 e 1944, pelo compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos (1897-1959). O autor associa determinadas facetas da obra de Bach com a música popular brasileira dando uma grande autonomia melódica a cada sector instrumental.

Quem, como Bach, foi um génio na arte das "fugas"? Quem, como ele, usou com tanto rigor o pensamento abstracto e a simbo-logia dos números – como o 5, o pentagrama, o emblema da vida manifestada – na sublime arte que é a música? Como deve ter sido enorme a intuição deste compositor para captar a criação dos sons no momento de execução livre e espontânea! Tão grande foi ela que justificou frases como esta: "Bach não pode ser outro senão um anjo que desceu à Terra" ou "Quem toca assim tem de ser Bach".

Todavia, apesar de ser um músico da era barroca, Bach tinha espírito romântico. Basta ler dois versos que escreveu em homenagem à esposa: "Oh! Como se enche de alegria o meu coração/ao ver florir a tua beleza". No rosto da esposa Bach via as "tranças que ocultavam as flores nupciais. Flores que ele viu ao morrer, quando "nasceu para o santo etéreo monte", cheias de uma beleza muito maior que a da rosa que a sua amada esposa lhe oferecia nesse momento.

Como nos enchem de tranquilidade e de paz muitos dos adágios das suas obras! Quanto mais conhecemos a música e a vida de Bach mais nos libertamos de ideias preconcebidas. Quanto mais nos libertamos delas mais admiramos a obra deste genial e fértil autor!

Delmar Domingos de Carvalho

 

Glossário



Adágio. Lento. Composição musical não tão lenta como o largo, mas mais do que o andante.
Barroco. Época da música europeia, entre o Renascimento e o período clássico, desde 1600 a 1750.
Fuga. Composição musical para um número determinando de partes ou "vozes".
Pop. Abreviatura de "popular". A partir de 1950 a palavra pop refere-se à música não erudita.
Romantismo. Termo usado para caracterizar a literatura escrita entre 1830 e 1850 e a produção musical entre 1830 e 1900.



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